Aprender é uma decisão

17/10/2011 12:02

Aprender é uma decisão! Particular, intransferível, ato de responsabilidade que um ser humano assume perante si mesmo quanto ao conhecimento que deseja, ou não, agregar ao seu cabedal. Não pode ser praticado ou vivido por outro em nosso lugar; não pode um terceiro ler por nós os textos, interpretar por nós sua semêntica, viver por nós essa exeriência cultural e racional de formação cognitiva. Então, por que há tanta dificuldade de aprendizagem nos cursos jurídicos em nossos dias? Em boa parte, porque não se quer. Temos presenciado no nosso dia a dia em docentes e de discentes atitudes de completa "preguiça acadêmica" fruto de uma cultura facilitadora no "mau sentido": não são apenas os trabalhos que são muitas vezes comprados, há professores mentindo em sua formação curricular para conseguir vagas em instituições sérias. Outro fator: a enciclopédia Google, que pode ser um instrumento riquíssimo, tornou-se "a fonte" onipresente de ambos - alunos e professores - e é preciso lembrar que o Google "não reflete ou pensa" por nós, até porque, se o fizer, teremos mesmo que reconhecer ali o "Grande Irmão" deo livro "1984" de George Orwell. Esta ferramenta da internet apenas fornece informação sobre onde outras informação mais específicas estão e nem tudo que se encontra passa pelo crivo de alguma autoridade acadêmica ou cientifica que certifique a sua qualidade. Encontrar a melhor doutrina e percorrer o caminho do conhecimento é ato próprio. Cada sujeito da leitura deve trilhar o seu e pautado em boas leituras (pois, é... o Direito é um curso que, para espanto de alguns, há muita leitura...). Ao dizer estas palavras a primeira reflexão que faço é de que, para além da questão preocupante dos plágios acadêmcios, há também a INVERSÃO DE RESPONSABILIDADE, comum também em outras áreas, como o mercado de trabalho. Vejamos:

 

Se o aluno não estudou ou se preparou para a aula, o professor é culpado porque não "mastigou" a leitura do texto para ele antes (já que, atualmente, todos os textos mais reflexivos ou complexos parecem uma "doença contagiosa" que o discente deseja evitar). Parece que, hoje, é proibido "complicar", proibido "exigir", proibido "dar leitura demais, esforço demais". Se conversou durante toda a aula, ficou brincando no celular, navegando no netbook, cochilando, etc. a culpa também é do professor que não tornou a aula interessante. Aviso aos "navegantes" universitários: as áreas do Direito são técnicas, portanto, muitas vezes maçantes mesmo (pergunte a quem atua profissionalmente) e a última coisa que você deve buscar na faculdade é diversão. Para isto é mais barato pagar a mensalidade de um clube ou academia de ginástica. Acredito que quem ainda não tiver maturidade e disciplina para a vida acadêmica, deve manter-se distante dela até estar amadurecido o suficiente para compreender que aprender é ato de decisão, compromisso, esforço diário e repetido, quantas vezes sobre um mesmo texto para entendê-lo. Isto é o normal, como também será na vida cotidiana de um profissional do Direito (que, com certeza, têm dias pouco "divertidos" no fórum, embora algumas situações possam sê-lo): juiz, promotor, defensor, advogado, assessor, etc. Incomum, raro, errado deveria ser a recusa em se empenhar com uma atividade que, em princípio, foi procurada por iniciativa do próprio aluno. Se uma pessoa não gosta de ler ou de sentar algumas horas por dia para estudar com afinco, por que resolve fazer um curso jurídico, no qual tais atitudes são o MÍNIMO necessário para ser bacharel? Faltou orientação vocacional, talvez?!

 

Sob a perspectiva docente, ainda persistem nas academias professores que não acreditam em formação pedagógica, desprezam participações em congressos, atualizações ou o desenvolvimento de pesquisa e parceria com alunos. Há muitos colegas docentes que acreditam que ensinar é correr o risco de formar um "concorrente", que não se deve transmitir tudo. Se tal é o pensamento, o último lugar em que deveriam procurar trabalhar seria uma faculdade. Outras vezes professores se queixam que "não são psicólogos", portanto, os problemas dos discentes não interessam. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra... É impossível mesmo solucionar os problemas de dezenas de estudantes as quais, não raro, enfrentam obstáculos pessoais devido à vida familiar, à falta de dinheiro, à má qualidade da escola de ensino fundamental e médio (que não os preparou adequadamente para o ensino superior). Tais problemas são questão de política pública, competem ao Estado. Mas "acolher" é questão de humanidade. "Ouvir" não arranca pedaço e pode, mesmo sendo tudo o que se tem a oferecer em certos momentos, uma atitude de grande ajuda. Ensinar não destrói seu espaço no mercado de trabalho, a não ser que tenham dúvidas sobre sua competência profissional. E, por favor, é preciso para de repetir provas anos a fio, por isso deixando de devolver as avaliações aos discentes. Se estiver sem criatividade para elaborar questões objetivas, quem sabe esta é uma excelente oportunidade de propor novas metodologias de avaliação, mais dinâmicas e menos estressantes que possam se revezar com o método de provas? Também é importante acabar com os "guetos", ensinar para a vida e, portanto, multidisciplinarmente. O professor que não acredita em atividade interdisciplinar não deve exercer a profissão, por certo, pois na prática nada vem "compartimentalizado", pelo contrário, é "tudo junto e misturado". As atividades que envolvem várias disciplinas podem contribuir muito para ampliar a visão do aluno sobre problemas jurídicos reais, sem descuidar da fundamentação teórica.

 

Precisamos banir dos cursos jurídicos a falta de qualidade, isso é certo. Tem sido o tema central dos encontros de estudantes e dos encontros de professores, além de forte preocupação de instituições como o Ministério da Educação (MEC), a Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Mas, então, é preciso enfrentar de frente a "preguiça acadêmica", o estudo ou a preparação "meia boca" de discentes e docentes, porque a qualidade não aparece por osmose ou por abiogênese. Ela vem do CONHECIMENTO e este somente se adquire com ESTUDO, seja de discentes assumindo responsabilidade pelo que fazem ou deixam de fazer entre suas tarefas acadêmicas (lembre-se: ao usar a margem de faltas do cronograma para ir a shows, bares, viagens, etc., assume-se a responsabilidade por "correr atrás" depois... todo uso da liberdade vem acompanhado de responsabilidade e, salvo no caso dos alunos de regime especial, ninguém tem que "tutelar seus estudos" em um curso de ENSINO SUPERIOR em que TODOS são adultos) ou de docentes (cuja falta de tempo, de interesse, de VOCAÇÃO para ensinar são alguns dos principais problemas que os Coordenadores de Curso enfrentam ao lidar com o seu corpo de professores cotidianamente, o que nos leva a refletir se os CRITÉRIOS DE SELEÇÃO destes profissionais que estarão em sala de aula não deva mudar). Quer um ensino jurídico se qualidade? SEJA O PRIMEIRO A MUDAR!

 

 

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