Gerações Y e Z - desafios para o ensino jurídico

20/12/2010 11:14

Há muito temos debatido sobre metodologias de ensino do Direito nas universidades e vários colegas já manifestaram seus depoimentos nos encontros da Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDi), do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito (CONPEDI), do Instituto dos Advogados e da Ordem dos Advogados, sem contar contribuições advindas das entidades representativas do corpo discente, como FENED e FEPODI, além dos COREDs. Essa troca de experiência, fazendo um balanço de 2010, tem sido muito rica para a educação jurídica, seus frutos têm sido sentidos e não se deseja parar por aqui. Há muito chão pela frente na descoberta de um novo patamar para o pensamento jurídico que tanto assegure sua estabilidade enquanto sistema, como o atualize enquanto realidade. Mas diante de todas as mudanças ocorridas nesta primeira década do terceiro milênio após Cristo, descobrimos que estamos até mesmo um pouco "atrasados"!...

 

Alunos da geração analógica, nós que hoje somos professores lecionamos para uma geração digital, melhor dizendo, virtual. A cada semestre aumenta o número de alunos que se utilizam desses recursos e não somente em instituições de ensino particulares. Por isso, é preciso vencer a inércia tecnológica. Até certo tempo, era ainda possível recusar-se a "aprender informática"; agora, tal recusa nos tornaria "analfabetos" para aquela parcela de cultura que é apreendida digitalmente. Seríamos "párias" (e seremos) quanto às novas formas de acesso ao conhecimento. Considerando isso, é um novo desafio para a docência assimilar as novas mídias sociais, incorporar à sala de aula e à pesquisa fontes não bibliográficas de conteúdo, trabalhar com o modelo wiki (colaborativo) de produção de saberes, dentre outras novas habilidades típicas do mundo interativo e global. Há muito tempo, Savigny já houvera dito que um professor de Direito não poderia ser alguém cuja única contribuição oferecida aos alunos pudesse ser um saber enciclopédico, que uma mera visita à biblioteca pudesse substituir. Sua função deveria ser a de intermediar a aquisição de conhecimentos, com senso crítico, pelo discente. 

 

Tantos anos após sua análise sobre a academia jurídica, compete-nos refletir novamente. As bibliotecas, hoje, são virtuais, acessíveis por meio de um click, conectam pessoas de diversos países, culturas e idiomas. Não é possível ao docente ser um mero repositório de doutrinas. O Google nos substituiria com facilidade, se esta fosse nossa única aptidão. Mais do que nunca somos demandados a nos tornarmos mediadores do conhecimento, pesquisadores, pessoas dedicadas à formação do bacharel vinculado ao mundo em que vive e, para tanto, utilizando dos recursos disponíveis. Devemos, também, cuidar da qualidade do conhecimento adquirido por meio das informações incontáveis que estão disponíveis nessas mídias. Nem tudo é sério, válido ou referendado por um discurso de autoridade. Há muita bobagem na internet, e orientar o processo de seleção dos dados pelos discentes é também uma formar de ensinar. Acredito, que a geração Y, nascida após a web ser criada e a expansão do celular, será cada vez mais exigente diante do uso de métodos tradicionais de ensino. A próxima, chamada geração X, que inclui os nascidos no novo milênio, ao chegar aos cursos superiores, muito provavelmente, nem mesmo fará uso de cadernos, a escrita será por touch screen e a interatividade em sala deverá ser cada vez maior.

 

Isso favorece os modelos de estudo de casos, por exemplo, que estimulam o raciocínio e a pesquisa junto ao alunado. A consulta a jurisprudências, a aplicabilidade da lei in casu, o estudo comparativo serão metodologias mais adequadas para o aluno desse novo mundo, em que, farto de informações, precisará de orientação no sentido de aprimorar seu conhecimento com qualidade e, como se espera já hoje, com ética e compromisso social. Desafiador será também o exercício da profissão, a necessidade de proteção contra os hackers e o aprimoramento dos sistemas de certificação digital. Todavia, inevitáveis, já que esse avançar não retroagirá. Serão urgentes melhorias nas legislações acerca dos direitos autorais, uma vez que a produção de conhecimento também se processará virtualmente. A expansão dos ebooks é uma prova disso. Mais do que nunca será imprescidível sustentarmos valores que permitam à nossa sociedade e aos envolvidos no ensino jurídico, diante de tantas possibilidades, não desvirtuar o senso de justiça e de respeito ao semelhante sob a escusa de que tudo seja um "progresso". O "mestre" e o "educador" devem ser mais valorizados nas academias em detrimento do mero professor, o "bate-ponto", repetidor de doutrinas e hábil leitor de códigos, mas sem engajamento com a formação humana. Esta, mais que tudo, há de ser preservada para que não percamos ao longo dos próximos anos, toda a riqueza de sabedoria que, apesar de seus percalços e quedas a humanidade conseguiu erigir.

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