Porque não somos iguais

25/11/2010 16:22

Hoje é dia 25 de novembro. Dia dedicado ao combate à violência contra a mulher. E muito ainda há por fazer. Nas delegacias e nos fóruns brasileiros tanto existem projetos e atuações de brilhantismo na defesa dos direitos humanos desse grupo, quanto se percebe que, na América Latina, pode-se afirmar que sofrem as mulheres um verdadeiros genocídio (veja os números de agressões, torturas e assassinatos anuais). As piadas, as imagens na mídia, as relações familiares, os papéis sociais, enfim, tudo precisa ser profundamente revisto. Nas palavras de Marina Colasanti, "eu sei que agente se acostuma" a ver maus tratos e pensar que é assunto de família, a presenciar injustiças e dizer que são normais (!) e corriqueiras, a ouvir sobre descalabros sobre os quais nada fazemos. Como completa a autora, "eu sei que a gente se acostuma... mas não devia", como não devíamos nos acostumar "a acordar de manhã sobressaltado..a ler sobre a guerra... a ser ignorado..." (confiram o texto "Para que ninguém a quisesse", da mesma autora; leiam também "Nem com uma flor", de Affonso Romano de Sant'Anna).

 

Outro ponto a ser refletido pertine às carreiras profissionais. É preciso assegurar garantias mais do que meramente mínimas de exercício de qualquer profissão com direito à igualdade e à diferença. Iguais na percepção das verbas trabalhistas pela atuação nas mesmas tarefas; diferente no direito de querer ser mulher, por exemplo. Quantos cargos são "iguais" apenas para as mulheres que se masculinizam? É preciso "quebrar o pau", "se impor", "falar grosso", ser "tão competente quanto um homem". Alto lá! Ser competente sim, mas enquanto mulher. Não é a ditadura do terninho, a obrigação de ser independente ou a vergonha de proferir em voz alta a vontade de ser mãe e curtir os filhos que tornarão a profissional mais qualificada. Aliás, seria como afirmar que ser um fracasso familiar, seja como pai ou mãe, equivaleria de imediato à melhoria da qualidade profissional. Chamo a atenção para esse tema, pois se hoje é possível evitar a gravidez, quando não é momento na carreira, e se casar e ter filhos já não são obrigações sociais tão fortes - embora ainda persistam, especialmente quando se notar os comentários feitos a mulheres acima de trinta anos - deve-se cuidar para não equivaler a suposta igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho à masculinização, o que via de regra significa: não fale em família, não conte sobre a doença dos filhos, não vista cores, não sorria demais, não expresso carinho, não faça pausa para o almoço, não se importe com as piadinhas sobre mulheres sendo humilhadas ou agredidas (física ou sexualmente)... ABSURDO!!

 

Há pouco tempo ouvi um magistrado em Minas Gerais contando uma piada em uma roda de juristas (dois advogados, um procurador do Estado, dentre presentes) em que a "graça", ao final, era que a mulher apanhava! Isso explica porque um juiz mineiro, de Sete Lagoas, teve que ser repreendido pelo Conselho Nacional de Justiça por se recusar a aplicar a Lei Maria da Penha. A Corregedoria mineira não considerou que houvesse motivo para punição, pois o magistrado não teria se excedido. Como disse anteriormente, há muito caminho ainda por percorrer. Somente agora a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) reconheceu o direito à licença-maternidade das bolsistas de pós-graduação (Será influência da eleição de uma Presidenta?). Nas Coordenações, nas Diretorias, nas Superintendências, nos Conselhos Superiores, em tantos cargos de relevo, ainda é masculina a presença maior. Nada contra a participação meritória dos homens, nossos parceiros em tantos momentos de nossas vidas como pais, irmãos, amigos, namorados, maridos, colegas de trabalho. Devo muito a homens maravilhosos que conheci. Por isso é tão difícil ainda ver que existem outros tão chovinistas, mesquinhos e pequenos em sua alma. Será muito bom quando uma lista tríplice formada apenas por mulheres para o Supremo Tribunal Federal não cause estranheza ou sensação de "protecionismo", como não causa uma lista tríplice formada apenas de homens.

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