Quem é você no Direito?

16/05/2011 19:51

A pergunta acima é feita recorrentemente para se aferir o grau de evolução patrimonial e estamental dos nosso pares na área jurídica. É comum nos medirmos pelo sucesso uns dos outros. Mas nem tão ordinário é reconhecermos uns aos outros por nossas qualidades humanitárias e éticas, embora todos os órgãos institucionais lutem por esses valores. As pesquisas que até então foram realizadas revelam que há uma desconfiança da sociedade em relação às carreiras jurídicas. Como valorizar mais nossa profissão no Direito, seja em que carreira for? E digo valorizá-la quanto aos valores que representa, ou deveria representar, perante as pessoas que nos cercam e formam nossos grupos de convivência. Há profissionais muito engajados, por que não são noticiados com a mesma ênfase que os menos qualificados? Padecemos de uma má imagem muitas vezes "permitida", ainda que involuntariamente, por nós mesmos, uma vez que ao nos referirmos aos exemplos de sucesso, como diria Saint-Exupéry, esquecemos do ser humano e lembramos apenas da contabilidade. Inolvidável que precisamos de conforto e bens materiais para viver, mas é esta a nossa única referência? O "doutor" se mede pelo tamanho do anel? Curioso pensar que muito que assim pensam nem tão bem sucedidos são. mais ainda é notar que, em vários casos, a prosperidade adveio a quem primeiro se ocupou com o "outro", com os bons valores de qualquer uma das carreiras jurídicas que haja intentado em seguir. é preciso, então, despertar nas gerações que estão nos bancos das faculdades de Direito esses mesmos valores.

 

Há tempos que o tema da relação clientelista que se formou entre IES, professores e alunos vem sendo discutido. O aluno ou aluna que se aventurar na seara axiológica será, muitas vezes, criticado e ridicularizado por colegas discentes e por docentes, inclusive. Será que não estamos desestimulando, ainda que por "via torta", a prática da ética nas faculdades? Medir um aluno pela sua esperteza, já nos tempos de academia, em "passara a perna e se dar bem" é um sinal de pouca inteligência. Exemplo: os espertos que jogam fora seu lixo nas águas não percebem que o valor de acréscimo cobrado pelo Estado para melhorar a limpeza deste recurso natural termina por ser rateado com eles também. O "esperto" que compra um trabalho de conclusão de curso e não é "pego" normalmente se torna, depois, grande crítico dos concursos públicos e do exame da Ordem dos Advogados pela exigência de conhecimento que fazem. E é, provavelmente, o mesmo que frequentou assiduamente a Coordenação do Curso de Direito para queixar-se dos professores exigentes e mais qualificados. Que tipo de profissional pode advir de uma pessoa com deformação de caráter? Não há dúvida que poderá saber ganhar muito dinheiro na profissão. É só isso? A formação do bacharel está apta a aprofundar-se na reflexão sobre outros valores?

 

Quando ingressei no curso de Direito o fiz sob a inspiração de um grande jurista que admirava: SOBRAL PINTO. Muitos outros conheci, alguns que foram meus professores na Universidade Federal de Minas Gerais, que também souberam transmitir esse bom exemplo. Mas em minha vida jurídica tive oportunidade de ver os dois lados. Os "espertos" não faltaram. E é indubitável que estão sempre prontos a fazer "tudo" por um pouco mais de dinheiro ou poder. É, sou idealista. Sem problema. Não acredito que mudarei o "mundo"; é muito grande para mim. Todavia, acredito que ainda não perdi de vista quem queria ser ao ingressar no curso de Direito anos atrás. É isso que sinto falta, às vezes. Gostaria de poder notar com mais frequência nas academias essa empolgação que é o motor de toda esperança em valores mais altos do que os cifrões. Claro que quero ver a docência valorizada, os advogados e consultores com boas expectativas quanto ao mercado, os servidores públicos em qualquer nível bem remunerados. É digno receber de modo justo pelo merecido trabalho. E tal reconhecimento é devido ao bom profissional que não deve ficar sem ver seus honorários. Mas podemos ir em frente sem pisar em que está pelo caminho, construindo uma realidade mais justa por meio de nossas ações cotidianas em meio ao exercício da nossa profissão. "Destino", "álea", "fortuna" são parte da vida; mas livre-arbítrio também. Em meio a idênticas situações sempre presenciamos DECISÕES diferentes. A ética é uma escolha, não um acaso que deixamos para as ondulações provocadas pelo vento mostrarem qual inclinação deverá ter. Não há um "Direito" que se faça sozinho, nós o fazemos. Se assim é, ele depende de QUEM o faz, sempre, portanto: Quem é você no Direito? 

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